ARTIGOS

Publicado em 16 de Outubro de 2013 11:08

O Olhar da Alma

Publicado por Valdeblan Siqueira Expirado

Participei, recentemente, de um encontro de professores, troca de saberes para incrementar a educação fiscal nas escolas públicas. Na abertura, o mestre de cerimônias anunciou a apresentação do coral da Escola Estadual Severino Farias, de Surubim. Em mim, num primeiro momento, nenhuma ressonância. Mas, como cão de caça, farejei, na movimentação e expectativa dos professores e do secretário de Educação, Danilo Cabral, o advento da excelência. Garotos se aproximaram, apoiando colegas portadores de necessidades especiais. Uma vez posicionados, deu-se início a uma apresentação musical que encantou os que estavam presentes.

Nunca estive tão perto de um grande artista. Especialmente daqueles que se fizeram grandes por seus méritos e não por força midiática. Mas tudo tem seu dia. Circunstancialmente na primeira fila, experimentei um momento de êxtase, compartilhado também pelos que estavam nas últimas filas. Contagiados, todos, pela harmonia, ritmo e emoção disseminada pela voz dos que fazem o coral de uma escola pública. No meu caso, o privilégio adicional de ver de perto a expressão de múltiplos olhares, atentos a um compenetrado maestro que a todos regia. Dentre aqueles jovens músicos havia alguns que, fisicamente, não enxergavam. Mas, deles brotava um outro olhar, de expressão ainda mais profunda: o olhar da alma.

Ao meu lado, a superintendente da 4ª Região Fiscal, Lina Vieira, exprimiu sua admiração a propósito de outro show, paralelo à melodia das vozes: a harmonia revelada no semblante daqueles garotos! A apoteose deu-se com a apresentação de uma música composta por um conterrâneo deles, Capiba: Madeira que cupim não rói. Um final sob protestos de uma platéia que exigia a continuação daquele magnífico recital. Emocionada, uma das coordenadoras do evento proclamou a graça de ver, ali, um exemplo da correta aplicação do dinheiro público. Abria-se, segundo ela, um espaço para a esperança. Uma das alunas, Maria Cláudia, contemplando a platéia com o olhar de sua alma, agradeceu o acolhimento. E em nome de seus colegas,desejou um feliz encontro para os professores. Dizia, a propósito de eventuais dificuldades que surgissem naquela reunião: confiem em Deus, que tudo pode! Falava com a autoridade moral de quem havia superado estorvos ainda maiores.

Para Aristóteles: “Somos o que repetidamente fazemos. A excelência, portanto, não é um feito, mas um hábito.“ Ressoam na minha memória os aplausos dedicados à excelência de uma equipe, representada pela professora Verônica. Emocionada, dirigia todo o crédito àquela que foi a fundadora da escola e do coral: Célia Farias, exemplo de ética e cidadania. As sementes que lançou germinaram e conduziram aquela escola à condição de referência nacional em gestão escolar, no ano de 2004.

A professora Célia, ali presente, personificação do mérito, da competência e da simplicidade, não dava bola para os adjetivos acerca de seu trabalho. Desfrutava da alegria de compartilhar outro sentimento: o de haver contribuído para o despertar da consciência da própria dignidade, do gosto, do sentido de viver, da cidadania naqueles que, por omissão de alguns, poderiam ver morrer seus talentos. A educadora me fez ver que uma pitada de amor é o fermento ideal para fazer vicejar a esperança. Seu exemplo confirma que a educação é a arma mais eficaz no combate aos descaminhos e à criminalidade. Só pela educação é que poderemos transformar a cara dos muitos brasis, estimulando, nos jovens, o desenvolvimento de seus talentos e potencialidades. Isso o que Célia aprendeu e nos ensina a ver, com a própria alma.

Artigo de Valdeblan Siqueira, publicado no Jornal do Commercio. 

» Valdeblan Siqueira é auditor fiscal da Secretaria da Fazenda do Estado e professor de ética profissional da Faculdade de Direito dos Guararapes

Data de inclusão: 03/12/2007

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